Sonntag, 29. Juni 2008

Abraço

Estou um pouco nostálgico, devo confessar. Ontem à noite, encontrei-me com as queridas amigas Mari, Mari & Helô (e matei a saudade), que me perguntaram bastante sobre o Camino, e com isso, é difícil tirá-lo da cabeça. Depois, em casa, vi o e-mail da Neli, gaúcha que conhecemos, junto com a Loiva, também gaúcha, durante o Camino.
E tentei rememorar o nosso encontro. Conhecemo-nos em Viana, se nao me engano, dividimos albergue ainda em Navarrete e depois em Azofra. Depois disso não nos vimos mais, mas sempre procurei os nomes delas nos livros de peregrinos durante o Camino, pois elas tinham, infelizmente, que caminhar contra o relógio.
Vi agora, depois de uma reclamação das Maris que a forma de comentar no blog é difícil, que a Neli havia deixado um comentário. Agradeço o comentário e o email, que receberá uma resposta em breve (primeiro preciso ver a final da Eurocopa, torcendo devidamente a favor da Espanha), e mando recuerdos e abraços pra duas amigas:



Abraços e Viva Espana!

Sonntag, 22. Juni 2008

16o Dia - Atapuerca - Burgos

Sem nenhuma dúvida, a etapa concorre seriamente em uma das mais difíceis, pelo menos assim o foi para nós.
Em primeiro lugar, muitos falaram que a Serra de Atapuerca era demasiada difícil, mas foi "apenas" mais uma serra; pelo menos era interessante, pois por ali que estavam as covas dos mais antigos ossos humanos já encontrados. Passamos por mais um grupo de ovelhas pastando calmamente e um campo com pedras (abundantes neste trecho) dispostas em forma de redemoinho, o que estimulava os peregrinos mais alegres a caminhar sobre as pedras antes de continuar o a trilha. Vai entender.
No auge da serra, uma bela vista de Burgos, com as agulhas da catedral já à vista. Isso faz pensar que a cidade está logo ali, mais um engano.
Ao fim da serra, deve-se escolher entre dois caminhos para entrar em Burgos, ou através de Villafria ou Castanares. Já nas etapas anteriores os peregrinos comentam muito que a chegada em Burgos é feia pois se caminha pela área urbana, ou seja, estradas e ruas. E o peregrino "tradicional" deve ter ojeriza a asfalto; hoje, depois de tudo, penso que quem tinha esse papo estava na verdade justificando o fato de pegar um ônibus assim que pudesse para "escapar" do asfalto e da caminhada monótona e entre carros e indústrias. E olha que muita gente fazia isso...
Enfim, no final das contas nao fizemos nem uma coisa nem outra. Segui o conselho do meu guia e seguimos em direcao a Castanares. Percorremos um longo e duro trecho ao lado do novo e deserto aeroporto de Burgos, na mais cruel lama que encontramos. Deve ter sido uns 5km pela via que os caminhoes usam para as obras do entorno do aeroporto, até chegar em Castanares. Nesse ponto, o guia aconselha a atravessar a estrada que cruza a cidade e segue até Burgos, abandonando o trecho para os peregrinos que corre paralelo à estrada, e seguir pelo parque ao sul de Burgos, junto ao rio Arlazón. Assim o fizemos, e, no mapa do guia, parece curto. Mas levamos muito tempo até chegar na cidade, apesar de ouvir os sinos da catedral.
Entao, uma vez em frente da catedral, cansadíssimos, com frio e agora debaixo de chuva, procurávamos o albergue. Se o guia acertou no caminho até Burgos - evitamos a área urbana e caminhamos por um belo parque -, errou sobre o albergue, pois falava que havia um novo, ao lado da catedral. Andamos pra lá e pra cá, e nada de albergue. Seguimos para o "antigo", só para descobrir que ficava quase dois quilômetros da catedral, no meio de outro parque. Chegamos lá quebrados - a esta altura eu já estava com tendinite nas duas pernas - um pouco antes das 18hs, o que é perigoso, pois normalmente a essa hora os albergues já estao completos. Mas este era grande - quase 100 camas - e conseguimos camas. Mas é um péssimo albergue, sem água quente, sem cobertor e sem calefacao. E nao nos deixaram ficar mais um dia, mesmo com dores e diversas bolhas. Ficamos mais um dia em Burgos, mas tivemos que achar uma pensao, pois simplesmente nao há mais nenhum albergue - nem considero o albergue do convento, pois só tinha 18 camas, insuficiente para a quantidade de peregrinos que passam por Burgos.
Burgos tem uma catedral incrível, completamente reformada, dois mosteiros interessantes - Cartuja de Miraflores e de las Huelgas - ruínas de um castelo, igrejas e muralhas, e séculos de história e de hospitalidade a peregrinos, mas o fato é que fomos muito mal recebidos na cidade e nao achamos infra-estrutura decente para os peregrinos. Só espero que depois da inauguracao do novo albergue a coisa melhore.


Segue nosso caminho alternativo, evitando a área urbana de Burgos:

Exibir mapa ampliado

Samstag, 21. Juni 2008

Romance de Don Gaiferos

O seguinte quadro está na Oficina de Peregrinos em Santiago, onde recebe-se a Compostelana:



Segue o trecho (completo) do Romance de Don Gaiferos, uma cantiga popular galega:

I onde vai aquil romeiro, meu romeiro a donde irá,

camiño de Compostela, non sei se alí chegará.

Os pés leva cheos de sangue, xa non pode máis andar,

malpocado, probe vello, non sei se alí chegará.

Ten longas e brancas barbas, ollos de doce mirar,

ollos gazos leonados, verdes como a auga do mar.

-I onde ides meu romeiro, onde queredes chegar?

Camiño de Compostela donde teño o meu fogar.

-Compostela é miña terra, deixeina sete anos hai,

relucinte en sete soles, brilante como un altar.

-Cóllase a min meu velliño, vamos xuntos camiñar,

eu son trobeiro das trobas da Virxe de Bonaval.

-I eu chámome don Gaiferos, Gaiferos de Mormaltán,

se agora non teño forzas, meu Santiago mas dará.

Chegaron a Compostela, foron á Catedral,

Ai, desta maneira falou Gaiferos de Mormaltán:

-Gracias meu señor Santiago, aos vosos pés me tes xa,

si queres tirarme a vida, pódesma señor tirar,

porque morrerei contento nesta santa Catedral.

E o vello das brancas barbas caíu tendido no chan,

Pechou os seus ollos verdes, verdes como a auga do mar.

O bispo que esto oíu, alí o mandou enterrar

E así morreu señores, Gaiferos de Mormaltán.

Iste é un dos moito miragres que Santiago Apóstol fai.



Freitag, 20. Juni 2008

O difícil retorno

Desde segunda-feira estamos de volta, mas ainda a vida não está nos eixos. Como acabou de dizer uma amiga minha, ninguém fica fora tanto tempo impunemente. Eu esqueci minhas senhas de cartão, não sei onde ficaram vários papéis, cancelaram minha conta de celular etc. Pensava que seria rápido voltar à rotina paulistana, mas não está tão fácil assim.
Mas é preciso enfrentar esses pequenos obstáculos e seguir o caminho, certo? Preciso imaginar que a conversa com uma irritante atendente da TIM é apenas mais uma chuva durante a caminhada e seguir em frente, sem ficar irritado.

O meu projeto de ter blogado todos os dias do caminho ainda segue, assim como colocar todas as fotos online. Mas como a organização
leva tempo, será tudo aos poucos.

Abraços.